Um bom filme pra ler um livro

Já escrevi por aí sobre a diferença entre uma obra literária e sua adaptação cinematográfica. Disse que às vezes a menor alteração no enredo pode trazer modificações profundas para o sentido da obra original. E que nem sempre isso é ruim. Pelo contrário.

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Edição de bolso traz as duas obras na íntegra e com boa tradução (Foto: Divulgação)

Alice no País das Maravilhas, do Tim Burton, é um filme que, de fato, desperta a vontade de ler o livro. Afinal, há tantas adaptações por aí, que nunca sabemos qual é a mais próxima da história original. E dá para falar com alguma garantia que o filme do Tim Burton está bem longe disso – o que, novamente, não é nenhum demérito para a produção. Pelo contrário.

O filme é baseado nos dois livros do Lewis Carrol sobre a menina: Aventuras de Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá. Sim, galera, não existe um livro chamado Alice no País das Maravilhas, como muitos podiam pensar.

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Filme apresenta um enredo novo com personagens já consagrados (Foto: Divulgação)

No primeiro, a menina cochila no colo da irmã na beira de um lago, daí ela vê o coelhinho correndo, vai atrás, cai no buraco e vai parar no País das Maravilhas. O lugar é habitado por criaturas fantásticas e cartas de baralho. A Rainha de Copas é a tirana do local que fica gritando cortem a cabeça o tempo todo. O interessante é que, no Brasil, não existe a figura da “rainha” no baralho – o que existe é a “dama”, representada pela letra Q, de Queen, rainha, em inglês. Daí o malabarismo na cabeça do tradutor: ser fiel à rainha da versão original ou ser fiel à dama do baralho? A edição que eu li – da editora Zahar, vencedora do quesito Tradução do Prêmio Jabuti, um dos mais importantes da literatura brasileira – ficou com a Rainha de Copas. Os tradutores do filme do Tim Burton ficaram com Rainha Vermelha, numa mistura bizarra entre os dois livros.

É que no segundo – o Através do Espelho –, Alice cochila e, em sonho, passa por dentro do espelho, indo para um outro mundo fantástico. Lá, quem dita as regras são as peças do xadrez – as peças brancas e as (pasme) vermelhas. Não são peças pretas e brancas, como no xadrez convencional – e isso eu juro que não sei o motivo. De qualquer forma, Burton coloca as peças de xadrez (comandadas pela Rainha Branca, que tem um papel bem mais secundário no livro que no filme) contra as cartas de baralho (comandadas pela Rainha Vermelha) em uma batalha que nunca existiu em nenhum dos dois livros. O que não torna o filme ruim. Ao contrário.

Em suma, as três obras são muito boas. Vale a pena ler os dois livros porque são histórias exaustivamente repetidas e que nem todo mundo conhece. Então acaba que você se depara com personagens completamente inusitados e que você, mesmo tendo visto peças de teatro, animações e filmes sobre Alice, talvez continue desconhecendo.  Eu, particularmente, gostei mais do primeiro livro, mas os dois são de uma leitura bastante agradável.

O filme simplesmente pega personagens dos livros e os joga em um enredo tirado quase em sua totalidade da cabeça do diretor. Apenas algumas poucas passagens – como o chá com o Chapeleiro e a queda da Alice no buraco – foram realmente tiradas dos livros. Mesmo assim, é um filme que vale a pena ser visto. Mesmo que em DVD em casa. Mesmo que sem os efeitos 3D. Mesmo sem ter lido o livro antes.

Confira o trailer!

Sobre Danilo Motta

Sou jornalista das editorias Digital & Tal e Mídias Sociais do jornal O Dia e mestrado em Literatura Brasileira pela UFF. Nas horas vagas, saio, bebo, me divirto e sento na frente do PC para contar a para todos o que há de bom na cidade. No Twitter: @diretodaredacao.
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2 respostas a Um bom filme pra ler um livro

  1. Eu tenho o exemplar dessa edição, mesmo um encanto para um livro que comprei no super mercado e por um preço super acessível. O legal foi ver esses mundos paralelos bem divididos em minha mente, pq as histórias que conhecemos da menina Alice são recheadas por personagens que estão em livros diferentes, mas que no boca-a-boca contracenam. Fiz esse post [http://bit.ly/llGMsG] no meu blog sobre o livro tbm já.

    É uma viagem deliciosa, mas cheia de delirantes efeitos!

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